sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

 Ícaro na Terra dos não-nascidos










by 

Bruci JFernandes

The Kids Aren't Alright



Não Sou bom em desenhar no Paint, mas, tendo. O ruim é fazê-lo usando a mão direta, sendo que sou canhoto, já tentei mudar o Mouse de posição, mas, mesmo assim não deu muito certo =/









By
Bruci JFernandes

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

REEL AROUND THE FOUNTAIN









Trilho do trem.

Os olhos são o espelho da alma.
Silvia pensava sobre isso, enquanto caminhava pelos trilhos do trem, tateando cada barra de ferro e pedra com a bengala, confiando plenamente na sua audição. Não temia a morte, temia a vida. Sabia que era diferente das outras pessoas.  Sabia que a linguagem dentro de sua cabeça era diferente das pessoas comuns. Que aprendeu de forma diferente, que seus outros sentidos são mais aguçados.  Algumas pessoas diziam o quanto ela é inteligente e tinha facilidade para aprender as coisas, o quanto diziam que era bonita, principalmente sua boca e cabelos. Por um lado era bem feliz, por outro não era. Seriam todos assim? Não conhecia o amor, o amor romântico, apenas conhecia o amor da mãe, do pai que faleceu quatro anos atrás.
As memórias surgem, sentada, no alto do morro, sabendo que o trilho ficou lá embaixo e que o trem estava passando lento, serpenteando como ferro na brasa, lembra-se do pai.  O querido e amado pai.  
 Quando ela tinha 10 anos, trouxe para ela uma caneca com sabão e um circulo de arame enrolado com algodão, lhe ensinou a soprar para formar bolhas de sabão. Ela não conseguia ver as bolhas, no começo se sentiu desconfortável, não entendia por que seu pai deu aquele presente no seu aniversário.  Que graça tinha? Que sentido fazia bolhas coloridas pelo raio do sol se seus olhos viam apenas as trevas? Até que aos poucos foi entendendo. Seu sopro, seu pulmão ajudava a formar as bolhas, o vento as levava para longe, ás vezes parecia até mesmo ouvir os estouro da bolha no ar, seu pai dizia sempre o quanto as bolhas eram bonitas, que ele não conseguia fazer bolhas tão bonitas quanto ela, nem sua mãe conseguia. Ele falava sobre o azul de algumas, do contraste com o vermelho do pôr do sol que sentavam para ver à tarde. Ela não via nada, vi apenas trevas, mas, seu pai a fazia ver a cor da sua própria alma, a sensibilidade dela.
Não nasceu cega, com três anos de idade perdeu a visão num acidente com uma forte pancada na cabeça no acidente de carro que mudou sua vida. Teria mudado seu destino? A lembrança do mundo agora era vaga. Não sabia exatamente como eram as cores. A única cor viva na sua memória quatorze anos depois era o azul do céu,  à última coisa que viu antes da perca visão.
Por outro lado, conseguia ouvir o galhofar das folhas mesmo com as leve brisas de outono.  Por mais que goste das mais variadas músicas, a maior parte do tempo passa escutando os sons do mundo.
 “A vida é uma canção” seu pai dizia, e realmente era. Ela aprendeu a notar isso aos poucos à medida que foi aprendendo a conhecer as pessoas por sua voz, a forma que suspiravam como eram seus passos.  Ela sabia que não podia julgar as pessoas por isso, mas, sabia que conseguia sentir o coração das pessoas. Mesmo assim não conhecia o amor. Estava sozinha.
O seu pai fazia falta, sua mãe trabalhava muito. Sozinha, ficava em seu quarto, quando saía do colégio, ou, saía passear sozinha apesar da preocupação da mãe.
-Se realmente os olhos são o espelho da alma, como poderei conhecer a verdadeira índole das pessoas? Como poderei reconhecer o amor? Perguntava-se na tarde caindo. Sabia que não deveria fazer isso, mas, jogou uma pedra que estava perto dos seus pés longe. Poderia machucar alguém, mas, decidiu correr o risco disso, provavelmente estaria sozinha naquele lugar. Sempre estava.
-Merda, quem é o filho da p...?
Silvia assustada não sabia o que dizer, ficou envergonhada, aparentemente havia acertado alguém.
O jovem não terminou de falar, imediatamente viu Silvia no alto do morro, sentada, assustada olhando para baixo, mas, parecia não saber exatamente para onde. O susto abalou momentaneamente seus sentidos.  Ela falou alto pedindo desculpas, se a pessoa havia se machucado.
-Espera!
Ele decidiu ir até ela. Subiu o morro devagar.
-Posso sentar ao seu lado? O que está fazendo aqui em cima?
Mesmo antes que ela respondesse, já tinha sentado e antes mesmo que a segunda perguntava tivesse sido respondida fez outra pergunta:
-Como subiu aqui se você é...? Parou o que ia dizer.
-Cega você iria dizer não é?
-Desculpa!
-Não se preocupe.
-Conheço você de vista, as pessoas te conhecem. Silvia não é?
-Sim e você?
-Paulo.
Respondeu o jovem. Ele pediu desculpas por ter quase a ofendido, pensou que tinha sido algum moleque desocupado que ás vezes joga pedras no trem quando este passa.  Conversaram a tarde toda. Um falou da vida do outro, cúmplice daquele momento mágico de outono. Ele via os pássaros pousarem e levantarem voo dos galhos das árvores, enquanto ela ouvia o som  dos pés tocando os galhos e das asas levantando o voo.  Ambos chamaram a vida dos pássaros de liberdade. Ela disse que pretendia quando atingisse a maior idade tatuar asas nas suas costas, ele por sua vez que pretendia tatuar olhos abertos, os olhos de Hórus. Ela queria a liberdade da escuridão, ele queria a liberdade dos seus olhos que via muito e entendia pouco da vida.
-Os olhos são o espelho da alma... Silvia disse baixinho.
-Talvez! Disse Paulo e acrescentou: - Eu prefiro acreditar que o coração é uma caixa de Pandora cheia de demônios para alguns, enquanto para outros é um oceano de esperanças que apenas o toque das mãos é capaz de conhecer.
Ela ouvia, ele via o trem passar lá embaixo novamente nos trilhos, enquanto algumas crianças jogavam pedras na caçamba deste do outro lado do morro.


By: Bruci JFernandes