quarta-feira, 23 de janeiro de 2013



Ponto branco na noite

Procurou em seus bolsos algum dinheiro, mas, encontrou apenas uma nota de dois reais mais nada, talvez até um único cigarro perdido no bolso da minissaia jeans.  Estava morrendo de fome, mas, mesmo assim pediu apenas uma dose de conhaque quando entrou no bar já na alta madrugada. O bar costumava ficar aberto até certas horas principalmente em finais de semana e numa sábado como aquele de calor não seria diferente.
Haviam três homens sentados em volta da mesa tomando cerveja, um ou outro pelos cantos do bar. Entre os senhores em volta da mesa tinha um mais jovem que não se preocupava em desviar atenção da garota morena de cabelos ondulados. Por algum motivo àquela era a mulher mais atraente que já havia encontrado. Levantou-se de onde estava acompanhado dos olhares maliciosos dos amigos de bebida e foi até ela parando ao seu lado e oferecendo um copo de cerveja, mas, ela ao contrário do que todos esperavam não aceitou e saiu do bar sem olhar para trás. Ele não daria por vencido e foi sorrateiramente atrás dela parando-a no caminho sob a luz do luar que irradiava uma luz nostálgica sobre o campo naquele horário.
Não havia mais ninguém na rua. Apenas os dois sobre aquelas nuvens negras. A lua apenas um ponto branco na noite.  Então quando a alcançou segurou na sua mão de súbito e está apenas o olhou no fundo dos olhos perguntando o quanto ele poderia pagar. Este por sua vez apenas pôs a mão no bolso e mostrou algumas notas de 10 reais.
-E só o que tem?
Ele olhando nos seus olhos:
-É o que você vale!
Ela pôs a mão na nuca, moveu levemente a cabeça e perguntou onde poderiam ir consumar o ato. Mostrar o poder do capitalismo de corpos humanos. Foram até a casa dele algumas vielas à frente. Entraram deixando a noite lá fora com seus fantasmas; Acendeu as velas que havia sobre a mesa no canto do quarto e despiu-se a jogando sobre a cama e tirando sua roupa sem o mínimo de delicadeza que fosse.  A garota gemeu, mas, era mais como uma lamentação disfarçada do que prazer propriamente dito.  Ás vezes podemos ver nos sorrisos humanos apenas o autoflagelo. Os minutos passaram rápido. Quando a vida não tem pressa o tempo parece uma brisa de verão. Ela levantou-se se despiu e saiu pela porta a fora, guardando dentro do bolso 30 reais amassados. As sombras da noite puderam notar uma tímida lágrima no canto dos olhos. Lágrima onírica dos sonhos quase esquecidos.
Andou o resto da madrugada perdida em vagos pensamentos. De alguma forma se via brincando de boneca no seu quarto pequenino de infância que passava a tornarem-se chamas quando o prazer de viver queria se fazer presente.  O sol nasceu iluminando a garota sentada num ponto de ônibus. O primeiro que passou ela subiu. Não olhou a placa. Não tinha malas nada mais do que três nota de 10 reais no bolso, um cigarro amassado e a remota lembrança de alguns sonhos perdidos.

Bruci Fernandes