Ponto branco na noite
Procurou em seus bolsos algum dinheiro, mas, encontrou apenas
uma nota de dois reais mais nada, talvez até um único cigarro perdido no bolso
da minissaia jeans. Estava morrendo de
fome, mas, mesmo assim pediu apenas uma dose de conhaque quando entrou no bar já
na alta madrugada. O bar costumava ficar aberto até certas horas principalmente
em finais de semana e numa sábado como aquele de calor não seria diferente.
Haviam três homens sentados em volta da mesa tomando
cerveja, um ou outro pelos cantos do bar. Entre os senhores em volta da mesa
tinha um mais jovem que não se preocupava em desviar atenção da garota morena
de cabelos ondulados. Por algum motivo àquela era a mulher mais atraente que já
havia encontrado. Levantou-se de onde estava acompanhado dos olhares maliciosos
dos amigos de bebida e foi até ela parando ao seu lado e oferecendo um copo de cerveja,
mas, ela ao contrário do que todos esperavam não aceitou e saiu do bar sem
olhar para trás. Ele não daria por vencido e foi sorrateiramente atrás dela
parando-a no caminho sob a luz do luar que irradiava uma luz nostálgica sobre o
campo naquele horário.
Não havia mais ninguém na rua. Apenas os dois sobre aquelas
nuvens negras. A lua apenas um ponto branco na noite. Então quando a alcançou segurou na sua mão de
súbito e está apenas o olhou no fundo dos olhos perguntando o quanto ele
poderia pagar. Este por sua vez apenas pôs a mão no bolso e mostrou algumas
notas de 10 reais.
-E só o que tem?
Ele olhando nos seus olhos:
-É o que você vale!
Ela pôs a mão na nuca, moveu levemente a cabeça e perguntou
onde poderiam ir consumar o ato. Mostrar o poder do capitalismo de corpos
humanos. Foram até a casa dele algumas vielas à frente. Entraram deixando a
noite lá fora com seus fantasmas; Acendeu as velas que havia sobre a mesa no canto
do quarto e despiu-se a jogando sobre a cama e tirando sua roupa sem o mínimo
de delicadeza que fosse. A garota gemeu,
mas, era mais como uma lamentação disfarçada do que prazer propriamente dito. Ás vezes podemos ver nos sorrisos humanos
apenas o autoflagelo. Os minutos passaram rápido. Quando a vida não tem pressa
o tempo parece uma brisa de verão. Ela levantou-se se despiu e saiu pela porta
a fora, guardando dentro do bolso 30 reais amassados. As sombras da noite
puderam notar uma tímida lágrima no canto dos olhos. Lágrima onírica dos sonhos
quase esquecidos.
Andou o resto da madrugada perdida em vagos pensamentos. De alguma
forma se via brincando de boneca no seu quarto pequenino de infância que
passava a tornarem-se chamas quando o prazer de viver queria se fazer presente.
O sol nasceu iluminando a garota sentada
num ponto de ônibus. O primeiro que passou ela subiu. Não olhou a placa. Não
tinha malas nada mais do que três nota de 10 reais no bolso, um cigarro
amassado e a remota lembrança de alguns sonhos perdidos.
Bruci Fernandes